Nunca fui um conversador de primeira categoria. Estando com as pessoas certas e os incentivos a meu favor, até que me saio bem, todavia reconheço minhas limitações. Trabalho com lógica e números, nem mesmo posso dizer que o português é meu forte, embora eu goste de arriscar o uso da norma culta e de palavras pouco usuais. Por falar em palavras pouco usuais, àqueles que gostam de curiosidades recomendo este vídeo [em inglês] do canal Vsauce do YouTube, que discorre sobre a lei de Zipf e o fato de a frequência com a qual palavras são usadas em determinada língua poder ser descrito por uma lei exponencial.

Por um instante me esqueci do real motivo que me levou à escrita desta reflexão. Uma folha em branco. Sua razão intrínseca existencial é o rabisco, é a palavra, é o desenho, é a exteriorização de lógica ou mesmo da ausência desta. É a necessidade de não ser mais uma folha em branco. E isso me lembra, muito poeticamente, da vida. Deixando de lado toda essa parte médico-filosófica acerca daquilo que nos é inato, gosto de pensar que somos a soma de todas as experiências que vivemos - e carregamos sempre um pedaço destas vivências.

E lá vou eu desviando novamente do assunto. Tentarei ir direto ao ponto. Sinto que sou muito melhor quando me comunico por via escrita do que por meio de conversa, seja transmitindo ou recebendo informações. A escrita fica ali para ser lida e relida, enquanto palavras que saem da boca são interpretadas e distorcidas; diversas vezes mal formuladas e jamais revisadas; fontes de desentendimentos. Há os poetas da palavra falada sim, aquelas pessoas que dominam com maestria a didática da explicação verbal, mas passo longe disto. Eu gosto mesmo é de ver as palavras se materializarem na minha frente, embora por vezes nem faça questão de revisá-las, dependendo da situação - como em uma carta romântica que escrevi recentemente e cujo conteúdo precisava ser cru, sincero ao extremo. É claro que isso não me impediu de pensar e repensar as palavras na minha cabeça antes de dar vida a elas, mas tornou o conteúdo da carta tão autêntico quanto bem formulado.

Me desculpem aqueles que nunca tiveram a oportunidade de trocar mensagens comigo. Talvez sua leitura da minha pessoa não corresponda ao que há por debaixo do capô. E fiquem felizes aqueles de vocês que trocam mensagens comigo frequentemente, saibam que mesmo nas situações mais informais prezo pela qualidade, senão linguística, de articulação das ideias em jogo. Acabo estas linhas feliz por ter saciado minha necessidade - e também a da folha em branco.