É dia de festa! Após muito pensar em criar um blog, visando a postagem de conteúdos diversos, eis que grudei a bunda na cadeira e forçei estes dedos cansados a digitarem as linhas que aqui se seguem. Para a estréia, aproveito um texto autoral de natureza fictícia, escrito recentemente - ele se chama “Bia”. Espero que gostem!

Bia

Era mais uma sexta-feira. Igual à anterior, e a anterior a ela. Mal sabia aquele rapaz que sua vida mudaria de maneira irreversível. Tudo começou naquele lugar que ele chama de lar, embora não seja sua residência. Uma república de estudantes que outrora frequentou e à qual retorna quando busca a felicidade.

Como de costume em dias de festa ou, melhor dizendo, como é lei em dias de festa, o rapaz sentou-se no confortável sofá azul da sala de estar e fez estalar a tampa da lata de cerveja: naquele momento foi decretada a largada, o início do esquenta, o início da noite. Lata após lata, um copo atrás do outro e isso continua a noite toda - eu vejo a marca na parede. Vês?

Mas o relógio tratou de interromper o rapaz e seus amigos da árdua tarefa de embriagarem-se até o limite no qual conseguiriam chegar na festa apresentáveis. E seria difícil, pois nesta festa os homens vestem-se como mulheres e vice-versa. Saia preta e blusa vermelha. Rubro-negro até a medula. E tu, és celeste?

Foram necessários três minutos para convencer o motorista do ônibus que seria uma boa ideia deixar o rapaz dirigir, e ele não decepcionou. Avançou faróis vermelhos, subiu no meio-fio, e freou como se não houvesse amanhã, alucinado. Todos foram entregues em segurança. Preferes aventura à segurança?

Já na festa, o rapaz se preparou para a apresentação da sua banda de pagode, na qual ocupa a posição de cavaquinhonista. Tocaram os melhores hits de É o Tchan, Inimigos da HP, Ramones e Madonna. Foi durante a apresentação que a viu pela primeira vez. Ele nem sabia, mas seu nome era Bia e ela se destacava em meio à multidão.

Ao som de I Wanna be Sedated ela era imbatível; seus braços executavam graciosas coreografias, sempre em perfeita sincronia com aquelas pernas de gazela, reluzentes. O movimento de seu corpo era fluido tal qual água corrente descendo as sinuosas curvas de uma montanha suíça. A partir do momento em que o rapaz a avistou, ele soube: esta garota teria o incrível potencial de roubar seu coração. Já roubaste um coração?

Quando acabou a apresentação ele desceu quase correndo do palco e foi pegar dois copos de catuaba Selvagem. Em meio àquele mar de gente, sentiu-se como Cabral em sua tentativa de chegar às Índias, mas sua Índia tinha outro nome - ela se chamava Bia. Por horas vagou até encontrá-la, mas não foi em vão, pois de perto aquela mulher era ainda mais deslumbrante. Já ficaste sem palavras?

Puxou conversa, perguntou seu nome e ofereceu um dos copos de catuaba. A Bia não aceitou, então ele tomou os dois mesmo. Começaram a falar sobre turbinas de avião, passando por plantas exóticas e música clássica, temperada com muitas risadas. Ele sugeriu que talvez devêssemos esperar pelo Sol, mas não o fizeram, então anotou aquilo que pensava ser o número do celular da Bia, com a promessa de que mandaria uma mensagem no dia seguinte. Passaste números errados?

Esta é a Bia. Dada a dificuldade de descrever alguém que não se conhece muito bem, fica o relato de como aquele rapaz a conheceu. Resta a derradeira questão: será a Bia “A Bia” ou será só “mais uma Bia” que um dia passou tal qual cometa?